quinta-feira, 4 de junho de 2009

Com que roupa?!

Há algumas coisas que não costumamos questionar. Por quê usamos roupa?! Por quê temos vergonha dos nossos corpos nus?! O porque de andarmos calçados eu nem questiono, mas essa de andar vestido eu acho incrível. Logo quando vim morar no Brasil percebi que a roupa era um acessório quase inútil, principalmente no verão. Não digo pelas mulheres peladas que a sociedade machossaurica brasileira insiste em perpetuar, digo pelo calor mesmo.
Vim eu direto lá da terrinha, de Vila Real, aquela cidadela incrustada em Trás-Os-Montes(agora já não se chama assim, Portugal virou uma federação, então as províncias foram fudidas, digo, fundidas e viraram estados). Há inúmeras diferenças culturais e elas refletem-se no vestuário, percebi ou perceberam por mim assim que eu cheguei. Além de ser constantemente chamado de mauricinho ou playboyzinho, percebi também que aquele tipo de roupa não se adequava muito aos trópicos. Era um calor insuportável sempre que eu estava com outra roupa, que não fosse o uniforme do colégio(outra diferença cultural, lá não se usam uniformes, distinguimos-nos pelo vestuário. Estilos de vida, saca?!).
Enfim, não foi uma experiência muito boa, de início, vir morar no Brasil. Foi meio traumático até. Tive que perder o sotaque muito rápido, pois mesmo ele era motivo de piada. Não é fácil vir morar num país em que a sua identidade é motivo de piada. Só depois percebi que não existem piadas de português, só há uma, o resto é pura verdade.
Bem... voltemos às coisas que não questionamos. Há uma altura das nossas vidas em que percebemos que o que fazemos é fruto do lugar ou sociedade em que vivemos(se você não percebeu isso até agora, ou é muito novo, ou precisa pensar melhor no que faz). Falamos uma língua, temos algumas festas, religiões, cerimônias, valores morais e éticos(nem tanto, né?!), referências e etc. Mas isso não costuma ser muito questionado.Acho que ter sido criado, em parte, em outro país, ajuda a perceber certas coisas. Uma delas foi essa coisa da roupa. Claro que a religião e tudo mais vieram também, mas a maior mudança foi, certamente, no vestuário.
Um belo dia, de calor, é claro, eu estava andando até o ponto do ônibus vestindo uma calça jeans. Suava feito um condenado. Calça jeans no calor é um inferno, ainda mais aquela Levis 501 que tinha vindo de Portugal(lá era uma febre esse modelo, chamado aqui na altura de calça cigarrete. Apertadinha, tipo essa que os emos usam. Um inferno!). A cada passo me dava vontade de coçar o saco, menos pela coceira da cueca e, mais, pelo incômodo. Era uma beleza, aquela calça e este calor...
Nesse mesmo dia notei a necessidade de mudar de vestuário neste país. Passei a usar mais bermudas, de preferência, largas, camisas mais leves, menos blusas pólo, chiiiiiiiiiiiiiiineeeeeeeeeeeeeeelo, bermudas de tactel(maravilha!) e outras indumentárias apropriadas ao calor daqui. Porém, houve uma peça do meu vestuário que eu mudei para sempre naquele dia e nunca tive uma escolha tão feliz. Parei de usar cuecas! Ah sim! Nunca mais tive vontade de coçar o saco, como vejo de mendigos a executivos fazendo na rua, com uma parcimônia tal que me deixa certo do que fiz.
Ainda há os e as que acham anti-higiênico, mas a verdade é outra. Trocamos de roupa todos os dias, qual o problema do pinto encostar na calça ou, mesmo, a bunda?(É só cagar em casa antes do banho.) Quem não usa cueca tem que ter mais asseio, pois não tem a nojeira daquela fralda para depositar a última gota de mijo, não tem o incômodo do pano apertando os bagos, nem a suadeira disso proveniente. A cueca é um estorvo!
Contudo, é mais fácil me chamar de porco e andar por aí com aquela cueca suja e rota, que não é trocada(que dirá lavada) há mais de três dias. Mesmo assim, ainda queria ter, várias vezes, esse ótimo motivo para coçar o saco em público, no meio da rua, sem dó nem piedade, mas parei de usar cueca há 11 anos...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Casar ou Comprar uma Bicicleta?

Eu sou um grande adepto de andar a pé e de bicicleta. Tenho incontáveis quilômetros percorridos na cidade do Rio de Janeiro, onde moro, e não só. Trajetos que às vezes nem eu acredito, mas que te viciam depois de um tempo. Tenho uma tara séria por fazer esses trajetos, seja na Penélope ou a pé. É um tempinho de reflexão, momentos meio introspectivos. Ótimos para serem feitos só, porém, se o companhia é boa, são bons também.
Quantas coisas não conheci por causa dessas andanças? Desde lojinhas de recipientes de vidro, de todos os tipos, menos panelas. Achei incrível aquela loja na rua do Resende. Um autentico achado! Ainda mais que eu tinha quebrado a panela de vidro da minha sogra há pouco tempo e queria trocá-la antes que ela notasse. Grande ilusão! Não havia a bendita panela e ela ainda descobriu. Lá se foi o aparelho de fondue da dona Ângela...
Bem,... houveram outras coisas,... muitas até. Antiquários fantásticos, sebos bons e baratos – principalmente nas quadras entre a Lavradio e a Praça da Cruz Vermelha, por um lado, e entre a Riachuelo e a Frei Caneca e Visconde do Rio Branco(o cara foi bom, tem duas ruas com o nome dele!), por outro. Conheci vários bares, lojas de bicicleta, mercados, mercearias, pessoas, torresmos... Nossa! Tenho que fazer um adendo: tem um boteco ali na Marquês de Abrantes, do mesmo lado da rua que o SESC, pouquinho antes, que é fenomenal! É um pé sujíssimo, mas o torresmo é de primeira!
Voltando, quantos edifícios lindos não vi? Coisas da nossa Belle Époque, art nouveau, art déco, neoclássicos, barrocos e rococós, modernismos le corbusieranos e niemeyeranos. O que é a Cinelândia, a Lapa?! Acho que andar, nesse ritmo mais lento, seja de bicicleta ou a pé, faz com que desenvolvamos outra relação com os lugares. Andar deixou-me apaixonado por esta ”metrópole“. Todos os seus extremos, tanta gente diferente junta, uma correria que não têm explicação, uma euforia, mesmo que disfarçada pelo terno. Nesses caminhos conheci a minha cidade. Levei tempo para chamá-la de minha, mas essas mesmas andanças deram-ma. Afinal, os melhores cariocas são aqueles que não nasceram aqui. Dizem...
Esta ode a pedalar e andar não é à toa. Numa dessas andanças pensei em abolir, definitivamente, o carro particular da minha vida. (Olha quanta coisa não dá para pensar de Botafogo à Tijuca.) Digo abolir o carro particular, pois já não tenho carteira, apesar de ter carros à disposição para usar; e de amigos, amigas, ficantes, namoradas, Pai, mãe e cunhado. Estava eu na rua do catete, logo depois de passar o largo do machado(mas não largo do copo), quando a idéia me ocorreu. Tive até à Tijuca para mudar de idéia...
Eu pensei: Como seria bom se eu só andasse de ônibus, a pé, de bicicleta, de barca ou, na última da hipóteses, de táxi. Passei o trajeto até à cândido mendes achando uma maravilha! Que fantástico! Para mim, naquela hora, era um ato de puríssima rebeldia. Mas o caminho até à tijuca ainda era longo.
No sinal, logo depois da cândido mendes, vejo uma menina linda dirigindo um carro. Estava parada no sinal. Ia entrar na cândido mendes – pelo menos a seta estava ligada. Os vidros da frente estavam abertos e de dentro ouvi mutantes saindo, tocando jardim elétrico. Olhei com mais calma para ela, foi o suficiente para me apaixonar. Tinha um jeitinho doce e decidido, pele macia e carne tenra, e um olhar constrangedor. E eu ainda tinha até à Tijuca para continuar apaixonado.
Pensei em todas as merdas que não rolariam se eu tivesse alguma coisa com aquela menina. Imagina! Eu querendo abolir o caro da minha vida e arrumo uma mulher que tem carro. Só pensei nela dizendo, Vamos almoçar no vegan vegan?! E eu respondendo, Claro meu amor! Eu vou sair agora e quando estiver chegando te ligo, ao que ela me responde, Mas eu to com fome agora! Vamos de carro! Eu sabendo que ela está de tpm, ainda tento amenizar, Mas meu bem, você sabe que eu não ando de carro, a gente não tá com grana pra ir de táxi, almoçar lá e voltar de táxi. Eu vou correndo de bicicleta, você vai de carro. Não vai demorar tanto. Como se isso fosse dar certo... até parece. Foi a briga mais óbvia que me ocorreu, além de algumas outras que não vale a pena citar.
Vi logo que a idéia não era tão boa. Mas havia outra possibilidade. Eu posso conhecer uma pessoa que também queira abolir o carro como eu, que goste de andar de bicicleta e a pé, que ache conhecer a cidade em outro tempo um máximo. É perfeito, mesmo me tolhendo de ter relações com meninas que tenham carro. Nessa hora vi que casar e comprar uma bicicleta não precisava ser uma dicotomia. Posso casar com alguém que queira casar e ter uma bicicleta. Que dificuldade haveria?! Ia ser lindo! Um casal passeando pela cidade, pelo mundo, poluindo menos, dependendo um pouco menos de combustíveis fósseis(é foda se livrar do plástico!). Pensei assim até atravessar o túnel entre a Lapa e o Estácio ou Catumbi(nunca sei que bairro é aquele).
De súbito pensei: Essa mulher vai ser uma hippie louca. Vai querer que eu pare de comer carne(o que minhas avós pensariam disso?!), vou fumar maconha o dia todo, querendo ou não, vou ter dúzias de gatos na minha casa(nada contra um, mas vários é foda, ainda mais com essa leve alergia!), nossas férias seriam sempre num lugar meio místico(mesmo que fosse o sana), nossos filhos se chamariam Vento, Lua Nova, Krishna e Maya. Lindo!! Mas vi que também não era isso.
Enfim, cheguei em casa pensando que eu podia ter consertado uma das minhas bicicletas e que aquela idéia de não andar mais de carro, mesmo sendo dos outros, era uma puta de uma idiotice. Abri o portão. Fechei-o. Andei um pouco, subi as escadas e peguei a chave da porta de vidro. Abri-a e fui apertando o botão do elevador. Me perguntei que horas eram. Peguei o celular e vi: 15:43. Como era domingo já sabia que ia pegar o almoção de domingo frio. Foda-se, microondas serve pra quê?! pensei eu... Entro no elevador, aperto o quatro, cantarolei um bocadinho e, no meio de when you’re similing, abro a porta de casa, vejo a mesa da sala meio tirada e pergunto pra minha mãe, que estava no sofá lendo o jornal, O que foi o almoço? Bacalhau à zé do pipo. Puta que pariu, a única coisa que eu não gosto aquecida no microondas!(como se gostasse de alguma), disse pra mim. Ainda tive esperança que tivessem almoçado há pouco e perguntei, Almoçastes ainda agora, num é?! Não André. A Tânia foi trabalhar cedo, já almoçamos há tempo. Nada podia ser pior.
Ou podia. Minha mãe larga o jornal, levantasse e diz, Tinha até vinho verde, mas eu e o teu pai já o bebemos. Nessa hora só me pausou pela cabeça que eu tinha levado quase duas horas para chegar em casa, mesmo que estivesse de bicicleta, ia levar uns 40, 50 minutos, não ia beber vinho verde, nem comer o bacalhau quentinho, acabado de gratinar. Foi quando percebi que não precisava nem casar, nem de outra bicicleta, precisava de um carro...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Português Definitivo

Como diz o Emílio, eu fico impressionante com certas coisas. Esses dias estava eu andando meio distraído quando algo me chama à atenção. O que era?! Um pôster de propaganda, mas uma propaganda, no mínimo, estranha. Era o comercial de um curso que prometia ensinar, definitivamente, um idioma. Até aí estranho sou eu, né?! Mas o idioma não era inglês, alemão, francês, italiano, nem mesmo chinês, tailandês ou um desses que nós pomos no orkut de sacanagem.
O idioma, acreditem, era o bom e velho português.Então fui olhar com mais atenção pro cartaz pra ver o que era de fato. Imaginei que fosse algo para concursos públicos, vestibulares, sei lá, pastores ou coisa assim. Nada. O anuncio dizia apenas que o professor Marcelo Portela(alguém já ouviu falar? dei até uma olhada no google, mas não apareceu nada) coordena o curso de português definitivo. Ainda me passou pela cabeça, pode ser um curso intensivo para as novas regras ortográficas. Na dúvida, decidi anotar o telefone e ligar.
Cheguei em casa e liguei. Só tinha anotado o telefone da filial Madureira, pois se o curso me interessasse era bem mais perto que a Taquara ou Campo Grande. Curso maxxxi, boa tardi, disse-me a atendente do outro lado. Boa tarde, tudo bem?! Eu liguei para saber de que se trata o curso de português definitivo, perguntei eu. Olhi, a pessoooa responsaver por esses negócio num tá não. Tudo bem, eu ligo mais tarde. A senhora sabe me dizer daqui a quanto tempo? Ao que ela me responde, Num tarda não! É rapidinho. Foi só foi obrá.Ta legal então. Muito obrigado.
De cara já pensei, não é curso para oratória em português, se fosse seria um disparate. Imagina um curso que pretende te ensinar a falar, onde a telefonista ou sabia lá eu o que era, diz que a pessoa responsável foi cagar. Bolei... mas fiquei tão curioso depois daquilo, que não agüentei e liguei de novo. Pra meu azar deu ocupado.
Acabei esquecendo a estória. Porééém, não é que eu passei pelo anúncio outra vez! Peguei logo o celular e liguei, aflito pra saber do que se tratava. Tocou, tocou, tocou e tocou mais um pouco. Enfim me atende um senhor, Estou sim. De onde fala, por favor, perguntei já reconhecendo um patrício do outro lado. É do curso maxi, senhor, ensinámos purtugês dfnitibo. Ah é?! Mas o que seria português definitivo, o senhor pode me explicar? Atão, é muto simples, desdenhava o luso do outro lado, é um curso pra’prenderes o purtuguês no dfnitibo. Sim, eu já entendi, só não entendi a parte do definitivo, nessa hora eu só conseguia pensar que aquilo era uma piada de português ao vivo. Bou-lhe xplicaire. Dámos aulas de purtuguês pelas dfnições. Ah tá, fiquei eu mais confuso ainda. Bou ser mais claro, acho que ele percebeu minha ignorância nesse momento. Meu nome é Mãrcelo Purtela, sou eu o prufessor e curdenador. Asjaulas são dadas por mim! Eu sou um purtuguês que dfne. A dizer melhor: sou um purtuguês dfnitibo. Hummm, é isso então?! Nessa hora só pensei no que meus amigos e conhecidos diriam disso.
Imagina, perdi um tempo do caralho para saber o que era aquele tal curso de português definitivo e, no final, era um merda de um patrício fanfarrão. Ainda assim, não satisfeito ainda perguntei, Eu só queria saber quem era a moça com quem eu falei da outra vez, se o senhor puder me dizer. Ele me reponde, É uma com sutaque de pãbaíba?! Eu meio encabulado respondo, Acho que sim, uma moça com sotaque nordestino. Ah! Essa filha da puta! É minha impregada, tá a querer fazer um curso de nórdestino dfnitibo, mas já lhe disse que ningáim bai qrer... onde já se biu?! Nórdestino dfnitibo?!?!?!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Leminskianas

É um riso
Que rasga o rosto.
É um gosto
Que gasta o sorriso.
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É tanta tralha,
Tudo se espalha.
É tanto tudo,
Que nada mudo.
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Rima pro querer
Eu não tenho.
Só posso dizer
Que não tem fim.
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Não é pecado amar.
Trair não é pecado.
Apaixonar é arriscado,
Já que vai te cegar.
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Não temo,
Não teimo,
Não tremo,
Não tenho tempo...
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Todo sujeito,
Sujeito de jeito imperfeito,
Com o peito no pleito,
É governado sem respeito
Por um sujeito sem peito!
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Rende risos,
Rói de doer.
Dói nos dentes,
Faz esquecer...
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Tenho andado com problemas,
Preferia andar com mulheres...
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Dou pulos.
Dou passos.
Palpito por
Teus braços...
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O problema das relações afetivas
São os ovos que se pisa.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Alfinete

Uma criança brinca com um alfinete; brinca com uma pedra, com um mouse, com teclados, com isqueiros, com gente e com tabus; brinca com perguntas, com certezas, com gramas e insetos; brinca com artrópodes, com letras que não conhece, com crianças sujas, pobres e duras...
Uma criança ri das mortes, das mães, dos pais, dos maridos, dos traídos, dos deuses e superiores; ri da vida, dos dias, da chuva, dos juizes e adevogados; ri dos relógios, dos celulares, das agendas e compromissos...
Uma criança cria castelos de areia, sonhos reais e gente invisível; cria músicas fora da escala tonal, comida de terra, viagens a outro jardim... digo, galáxia; cria risos bobos e sinceros...
Uma criança chora de tristeza, de dor e amor; chora por nada, por tudo e por todos; chora com vontade, de verdade, de raiva e ansiedade; chora por chorar, por poder...
E nós, que já crescemos um pouco, fingimos não ser mais crianças.