terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pelo Prazer D'escrever

Saiu só de toalha do banheiro, o vento bateu-lhe nas coxas e subiu causando uma sensação gostosa e constrangedora. Ele olhou-a da cama, ainda meio com sono, não percebeu a sua inquietação, seu desconforto e prazer. Pudera, ele não sabia como ela ficava vulnerável com um pequeno sopro que fosse, uma expiração leve como uma brisa bastava, mas disso ele não sabia. Também, se soubesse, ia fazê-lo até que ela não aguentasse mais, a ponto de pô-la farta daquilo, de um jeito tal, que nem mais um furacão poderia despertá-la. Tiveram sorte, pois nas poucas vezes juntos, ele não descobriu seu segredo, ela não se apaixonou, nem tão pouco gozou, foi só um divertimento, e, ele não interessa, vai continuar sem saber os segredos dela ou de outras, já que caçadores só sabem abater...


O dia foi tenso, quase não parei, mal tive tempo de almoçar, na verdade, foi um lanche. O trabalho inexistia, estava teso, imóvel, nem os pensamentos conseguiam mexer-se. Quando o chefe me disse para ir resolver o problema arranjado pelo auxiliar, só consegui balbuciar um sim. Não foi do tipo, Sim Senhor, mostrando-lhe minha obediência e respeito, mas tipo, Sim,,, com o substantivo senhor quase esquecido, pensando mesmo em deixar só pelo simples sim, emendando após um, Você sabe come esse auxiliar é. Tive a perspicácia de engatar logo um senhor, mais respeitoso e obediente do que o costume, mas, passado um pouco, recordei a promessa feita à mulher dele, tinha que matá-lo assim que o expediente terminasse.


Se havia coisa de que ela se orgulhava era do asseio da sua casa. Tinha sempre tudo limpo, impecável, sempre pronto pra receber qualquer um, fosse um ministro, um bispo, o patrão do marido, aquela sogra chata com cheiro de cedro misturado com naftalina, hábito de quem não limpa, mantém tudo fechado e usa subterfúgios lúgubres para evitar o odor do mofo. Os móveis brilhavam, a mesa de vidro não tinha sequer um arranhão, cada bibelot ocupava obedientemente o seu lugar, medido, calculado, exato! Não havia erro nem coisa fora do lugar, as aranhas não proliferavam, tão pouco existiam, pois os insetos naquela casa não se criavam. O frescor do detergente e a organização imperavam naquela casa, pena era não ter ninguém que pudesse vê-los.


O vapor condensava-se na sua garrafa de cerveja. Aquele tom bronze do vidro fazia com que as gotículas de água formassem um citrino bruto, um pouco mais escuro, é verdade, mas com aquela textura irregular e cristalina, pronta para ser diluída num tolo passar de um dedos. Pensou nas coisas que podia fazer no lugar de beber aquela cerveja, sensações que podia ter se não fosse aquele porre, prestes a chegar. Recordou que houvera tempo no qual aquilo não lhe interessava, o gosto desse líquido parecia-lhe amargo, contemplar aquela cena seria disparatado e, de repente, um amigo lhe pergunta, Essa Belgian Ale é um espetáculo, né, ao que ele responde, Muito melhor que a Boite, jamais imaginei que Dado Bier fosse sinônimo de coisa boa.

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