terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Entre a Necessidade e a Adaptação

Essa coisa de ser português e não ter quase vestígios da minha cultura natal é uma coisa! Vira e mexe alguém me pergunta: Por quê seu apelido é Portuga? Depois de quatorze anos já tenho algumas respostas preparadas, mas elas sempre dependem de quem pergunta e do meu humor.
Se eu estiver de bom humor digo logo a verdade, que nasci em Portugal e que vim pra cá na adolescência. Se for alguém meio chato querendo puxar assunto, seja homem ou mulher, eu digo que é por causa da minha falta de inteligibilidade (já sabendo que a pessoa dificilmente saberá que me estou chamando de burro, mas quem mandou perguntar?!). Se estiver muito bem humorado faço uma graça, digo dever-se ao meu bigode, que é uma semelhança que procuro manter com a minha mãe.
Agora, um destes dias fui entregar uma prova e a professora puxou assunto. Perguntou como eu tinha ido, se tinha feito boa prova. De pronto respondi o que ela saberia quando a corrigisse, fui muito bem na primeira questão, mas dei uma escorregada na segunda. Não satisfeita perguntou-me: Você é português, né?! Coisa que ela já sabia, pois certa aula ela foi fazer uma graça com meus patrícios e sua lógica peculiar e alguns alunos riram, como se houvesse um português na sala. Óbvio, lá estava eu rindo junto dos meus colegas pela gafe da professora. Ela meio sem jeito apercebeu-se da situação e perguntou se havia algum português na sala. Assim ela descobriu que eu era português.
Contudo, jamais esperei aquela pergunta de uma professora, mas entendo, vindo de uma socióloga é até normal. Problema é que eu não podia dar aquelas respostas prontas ou ácidas, né? Ainda mais quando ela disparou uma série de questões relacionadas: Mas você não tem sotaque?! É praticamente um brasileiro?! Você está há muito tempo aqui?
Bem, respondi tudo com calma e polidez, mas pensando em silêncio outra coisa. É que a senhora não era um português no início da adolescência, vindo do interior, pouco adaptado às maldades e malandragens cariocas, ainda por cima, que foi estudar num colégio do subúrbio, nem “tinta” eu podia falar, pois era motivo de chacota. Queria ver se a senhora não perdia o sotaque e o jeito de português rapidinho! Foi também por causa disso que tomei ódio mortal pela seleção brasileira, mas isso é outra estória...

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